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O momento de dizer adeus

Não sei como começar esta carta. Se é que poderei chamá-la de carta, pois nunca saberei se chegará a ti e se a lerás como eu pretendo que o faças. Tenho vasculhado fotografias e, vendo bem, tinha a meu lado uma pessoa tão bonita. Eras maravilhoso! Ao meu ver e ao ver de qualquer outra rapariga que te desejaria. Tem cabelo loiro, olhos azuis que cativam uma qualquer, tem demasiada confiança nele e, era um convencido de primeira. Às vezes, pergunto-me se ainda continuas a ser a mesma pessoa que conheci, à uns meses atrás. Quando te conheci, interessei-me logo. Não por estar carente que tu sabes que não estava mas, pela tua maneira de ser, o teu sorriso envergonhado, as tuas palavras meio tímidas. E, sabes tão bem quanto eu que não sou uma rapariga que se apaixona logo à primeira. Contigo foi diferente! Tudo tão diferente... Tantas noites que adormeci ao teu lado e tantas manhãs que acordei com um beijo teu. Tive-te tanto tempo ao meu lado, fosse nú ou de boxers às bolinhas, despenteado ou penteado, os meses foram passando e, de facto, a tua beleza passou a ser indiferente.
Apoderaste-te de mim. A partir do momento que isso aconteceu, soube logo que a minha vida começará a ser dependente de ti. Todos nós sabemos que o amor tem dessas coisas e, se pudesse eu ter lido o futuro nada disso aconteceria mas, voltando ao assunto... Comecei a pensar só em ti, meti-te em primeiro lugar muitas das vezes. Eu amava-te! Amava-te tanto... E, amo, dizendo bem. Amo-te apesar de tudo ou depois de tudo. Apesar de tudo o que me fizeste e depois de tudo o que passei. Nunca apaguei as nossas fotografias, guardo-as com imenso amor e, tanto carinho! Sabes as mensagens? As mensagens longas e que passei minutos a fio a ler? Estão em modo rascunho. Nunca te disse mas, dir-te-ei eu agora. Cada vez que vem a saudade lei-as e releio-as, vezes sem conta, até encaixar na minha cabeça que já não voltarás, como não voltas-te naquele dia no parque... Guardo também comigo os teus vídeos de maior estupidez. Os teus calções, as tuas meias... Ainda estão comigo! São esses pequenos pormenores que fazem toda a diferença. Voltado à conversa que estava a ter lá em cima, naquele dia do parque... Foi a maior angústia, a maior perda que alguma vez tive. Numa manhã clara e serena, falávamos como todos os outros dias, enchias-me de amor e tranquilidade, sentia-me segura por encheres-me com tanto carinho. Não estranhei, fazias-me isso todos os dias, por isso... Continuei. Retribui todo o amor e, de repente, dizes "precisamos de falar". Não me perguntes o que senti, porque quando dizem isso a uma mulher ela fica toda exaltada, exaltada será a palavra certa? Senti-me ansiosa, preocupada, receosa... Não sei quantas palavras existem para te explicar o que senti. Apenas deixei-me levar, queria saber o que haveria de tão importante para falarmos, haveria algo de mal em mim?
Quando chegaste perto de mim e começaste-te a rir, deixei de me preocupar, e pensava que ias começar a gozar como fazes sempre, por isso, também me comecei a rir feita maluca. E tu dizes "Não sei como te explicar, isto já é de algumas semanas... O que sinto por ti diminuiu". Não sei, pensei que continuava na brincadeira e, começou a dizer tudo como os malucos, aí o meu coração começou a parar. Eu tremia a ouvi-lo falar, não era fácil estar na minha pele mas eu tinha que fazer o meu papel de forte. Falou, falou e contínuo a falar, a minha resposta era sempre "sim" ou "tu é que sabes", não havia mais nada para lhe dizer, ele sabia que o amava e isso era escusado dizer de novo, ele não poderia voltar com as palavras atrás. Levantou-se, pediu-me um beijo no rosto. Não mo deu, deu-me antes um abraço. Senti-me perdida, sem forças e, não fui capaz de enrolar os meus braços ao pescoço dele, quando ele sussurrou no meu ouvido e disse "Desculpa por tudo", não sabia como reagir. Não sabia se as palavras que me disseste foram reais, se tinhas alguma razão para tudo isso, não sei... Foste embora, e vi que limpavas as lágrimas. Não sei como foste para casa, se a viagem correu bem mas, sei que fiquei naquele banco por alguns minutos sem reação, as lágrimas eram imensas e, a dor no peito era tanta. Olhei em frente para ver se voltavas para trás mas, esse momento não chegou. E aí vi, acabou.